Biotech e ética hacker

“Ciência da computação está tão relacionada aos computadores quanto a Astronomia aos telescópios, Biologia aos microscópios, ou Química aos tubos de ensaio. A Ciência não estuda ferramentas. Ela estuda como nós as utilizamos, e o que descobrimos com elas.” Edsger Dijkstra, cientista da computação holandês.

Quando se pensa em ciência do século XXI, grandes empresas, centros tecnológicos e universidades são referências de produção científica. No entanto, novas correntes de experimentações biológicas tem ganhado a atenção do mundo, uma espécie de mistura de metodologia científica e ética hacker: o biohacking.

A ética hacker deriva de princípios do lema “do it yourself” (faça você mesmo), sendo representada pelo livre acesso a computadores, assim como abertura de conteúdo, compartilhamento e descentralização de poder. No caso do biohacking, o ato de hacker elementos biológicos segue a mesma lógica, como forjar um colírio para visão noturna, alterar genes de animais para que brilhem no escuro, cultivar bactérias que sintetizam antidepressivos em iogurtes ou sintetizar proteínas na garagem.

biohacking

“Não temo os computadores, temo a ausência deles.” Isaac Asimov, escritor de ficção científica. (fotos de arquivo pessoal)

Longe de grandes laboratórios e grandes financiamentos, os biohackers possuem ambientes de trabalho como a própria garagem ou um quarto de apartamento. Em sua maioria, são graduados com experiência, que possuem a diversão ou a curiosidade como motivação. Não é raro encontrar compatibilidade dos biohackers com alguns ideais da ficção científica, como o transhumanismo e o biopunk. O transhumanismo acredita na transformação do corpo humano  em estruturas superiores através da tecnologia, já o biopunk defende o livre acesso à informação biológica, como instrumento de democracia e liberdade.

Apesar de ser julgada como ameaça, a ética hacker foi produto da contracultura do século XX, dando muitos frutos para a humanidade. Graças aos hackers, a informática se popularizou com os computadores pessoais, que, por sua vez, impulsionaram a internet, websites, plataformas de blog, redes sociais e outros avanços de hardware e software (e claro, este humilde blog também é resultado de tudo isso).

Manipular a biologia é muito complexo. Sempre haverá alguém buscando desenvolver ou descobrir alguma novidade, seja um cientista ou um amador. Na verdade, é bem provável que o biohacking tenha precedido o hacking propriamente dito, com alguns séculos de vantagem. Talvez Gregor Mendel ou Charles Darwin sejam os pioneiros do assunto, pois também atuaram como biólogos independentes, verdadeiros “biólogos de garagem”.